Olá "Velhinho",
Estou de volta neste dia de grande nostalgia para nos encontrarmos de novo e falar um pouco...
Faz hoje dois anos que saíste da minha Vida mas nunca da minha memória. A Vida em si não tem sido fácil para todos nós(embora só possa falar por mim) , mas digo-te que em termos de Família na verdadeira acepção da palavra, por vezes deixamos muito a desejar... muita tensão a nível psicológico e emocional enquanto por vezes nos afasta e nos leva a conflitos, outras são razão de harmonia e união apesar de cada vez menos. Quanto a mim, cada vez me sinto mais perdido, procurando nos meandros da minha fútil existência um bom motivo para ganhar alguma auto-estima e poder orgulhar-me de mim mesmo... afinal as únicas batalhas que venci, em nada me ajudam na senda da Vida e nas verdadeiras dificuldades que tenho de ultrapassar e nas responsabilidades que devo encarar! Entre as minhas poucas alegrias que de quando em vez se proporcionam e valem num momento por um dia ou uma semana, só o meu Filho continua a ser o meu melhor Amigo e companheiro, de quem me orgulho cada vez mais. Sinto que verdadeiramente ele irá singrar e destacar-se entre os demais quando for um homem, como já começa a fazê-lo já hoje!
Quanto a mim e contráriamente não tenho sido bom exemplo de Filho, procurando o mais possível o refúgio da minha quase inércia numa idéia que sempre me alimentáste por útil e sábia... a leitura. Nada de muito erudito, mas embora tarde cada vez mais vou ganhando o gosto por esse hábito que justifica a frase que sempre dizias ao falar de livros e de cultura: "O SABER NÃO OCUPA LUGAR!" e até já selecionei alguns exemplares da tua Biblioteca para ler. embora também tenha as minhas preferências, que nos dias difíceis que atravessamos nem sempre são(com alguma razão) bem recebidas pelo resto da Família. Tenho algumas saudades da tua opinião sempre racional, sem stress nem histeria mas sim em pleno debate e troca de idéias, só entre nós homens, mais concretamente entre Pai e Filho, em que por mais pequena sempre saía uma luz duma conversa saudável em que a crítica e o elogio dávam as mãos para uma conclusão eloquente. Tenho diáriamente um turbilhão de idéias, algumas prácticas e outras nem por isso devido ao meu feitio sonhador, mas que nunca se levam a bom porto pois há sempre um entrave qualquer ou porque meramente não me revejo na situação que se me depara ou mesmo ainda pelo comodismo que me bate e leva muitas vezes a pensar "não vale a pena" mesmo sem tentar. Até já pensei escrever um livro, mas mesmo sabendo o que sei hoje não saberia por onde começar... já Sócrates dizia outrora:"SÓ SEI QUE NADA SEI". Talvez o facto de pouco vislumbrar em termos de futuro ou por pura estupidez, continuo sem ganhar rumo e sem saber como o procurar... se é que ainda seja possível para alguém como eu, que estou cada vez mais convencido ser a antítese total do Homem e Pai que sempre foste! Assim vou-me dedicando mais ao ser Pai e no resto seguindo a norma que o António Variações tão elucidamente cantava:"É P´R'ÁMANHÃ DEIXA LÁ NÃO FAÇAS HOJE , PORQUE AMANHÃ TUDO SE HÁ D'ARRANJAR"... tentarei que não seja mais assim, mas primeiro tenho de me encontrar!
Tenho muitas SAUDADES tuas "Velhinho" e um sinal teu viria a calhar(se é que tal coisa é possível) pois eu crenças poucas tenho, mas ainda acredito no Ser Humano.
Por ora despéço-me com um Grande Abraço do teu Filho Pedro e do Neto Ricardo...
CARPE DIEM!